BARBARA GANCIA
Em "1984", Goldstein é uma criação do Partido, um inimigo comum que serve para canalizar a insatisfação |
VAI COMEÇAR tudo de novo. A Europa não digere bem o diferente, não gosta nem mesmo dos seus. Na Itália, e também na Suíça, cidades separadas por coisa de 40, 50 quilômetros falam dialetos ou línguas completamente diferentes e, muitas vezes, se odeiam.
Na Inglaterra, ainda predomina um sistema de castas. Literalmente até ontem, os filhos da nobreza não precisavam ser eleitos para fazer parte do Parlamento. Para obter uma cadeira na Câmara dos Lordes, bastava que eles se dessem ao trabalho de nascer. As diferenças sociais entre uma casta e outra começam pela maneira de falar. Cada colégio tradicional tem seu próprio sotaque e qualquer inglês sabe reconhecer o ex-aluno de Eton pela maneira como ele fala.
Da mesma forma, a tradição diz que quem nasce na área em que os sinos da igreja St. Mary-le-Bow podem ser ouvidos irá falar cockney, o sotaque predominante entre a classe trabalhadora. Já imaginou ser definido social e culturalmente por toda a sua vida pela maneira como você fala? Na semana passada, os italianos aprovaram uma lei permitindo que os médicos da rede pública de saúde exerçam com naturalidade o ódio aos estrangeiros. De agora em diante, eles podem denunciar quem vive ilegalmente no país assim que o imigrante ilegal pisar no consultório buscando atendimento médico.
Lembra, nobre leitor, quando tudo indicava que o prazo de validade de "1984", de Orwell, havia expirado? Com Fukuyama, nós não chegamos a achar que a luta de ideologias e de classes e tudo o que delas emanava havia chegado ao fim? Pois a atual crise econômica é como um bafo rançoso no cangote. Com ela, a intolerância e a xenofobia que estavam dormentes na Europa acordaram. E de mau humor. Em "1984", Emmanuel Goldstein é uma criação do Partido, um inimigo comum que serve para canalizar o descontentamento da população. Ele é uma espécie de Guerra das Malvinas, que foi confeccionada pelos generais argentinos para distrair a população de suas reais aflições. Parece incrível que, a esta altura, Emmanuel Goldstein possa ter ressuscitado na Europa. Mas ele voltou na pele de um africano, um sul-americano ou um árabe, sem permissão de residência, que ameaça o emprego do europeu. E está prestes a ser linchado em praça pública.
Na noite da última segunda-feira, em Zurique, na Suíça, a advogada pernambucana Paula Oliveira, de 26 anos, teve a infelicidade de ser confundida com Emmanuel Goldstein por supostos skinheads. Paula foi espancada e cortada a estiletadas. Grávida de gêmeas, ela sofreu aborto na noite da agressão e acabou internada em estado grave. Depois de vê-la no hospital, seu pai disse: "Paula recebeu uma centena de ferimentos e teve o corpo todo retalhado; sempre achamos que essas coisas só acontecem no cinema...".
Apesar da pouca idade durante a Segunda Guerra, minha mãe colaborou com os "partigiani" levando e trazendo encomendas em uma cesta de piquenique. E viu um primo adolescente ser morto a sangue frio pelos nazistas. Assistimos juntas à queda do Muro de Berlim pela TV. Ela não parecia muito animada. Perguntei o que havia e ela disse: "Vai começar tudo de novo". Minha mãe pode ter errado o timing, mas nunca se engana sobre o fundamental. Está começando tudo de novo.
Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1302200912.htm
Os europeus são como fantasmas ingratos e ilusórios que sempre retornarão para manifestar sua insatisfação devido ao nosso( incluindo ex-posses e colônias )suposto "desenvolvimento" e talvez liberdade.
ResponderExcluirEu digo ingratos, pois são crianças que depois de serem empanturradas com doces, ainda se sentem no direito de tirarem mais uma lasquinha, no direito de comandarem tudo e todos. A crise veio e trouxe toda sua possível força, enxergando isso nitidamente os habitantes dos países super desenvolvidos colocam a culpa, o peso maior sempre do lado mais fraco e vulnerável, os imigrantes.
Se nós fossemos tomar conhecimento de cada conquista deles e cada "desconquista" nossa, nem as árvores do mundo produziriam tanto papel para relatarmos tudo aquilo. Pior se fossemos trocar cada lágrima indígena por moedas de ouro, se isso ocorresse era bem capaz dos endemoninhados imigrantes serem postos como reis e rainhas de uma Europa politicamente incorreta.
Sara Resende 1º I – COC ARAGUARI
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ResponderExcluirO texto fez uma abordagem interessante sobre o aumento da xenofobia nos países europeus e vinculou isso com a crise econômica mundial. Porém percebe-se que a grande questão é a forma como são tratados os imigrantes nesses países. Melhor dizendo, como eles são discriminados nos países de primeiro mundo. Algo preocupante está acontecendo, mas só quando nos deparamos com notícias trágicas como a da pernambucana Paula, é que realmente temos noção do quão ruim é o tratamento para com nossos conterrâneos. E não só com eles, mas com imigrantes no geral.
ResponderExcluirA conclusão da autora é bem feita quando ela diz que "está começando tudo de novo" porque a aversão aos estrangeiros, antes adormecida (ou, pelo menos, disfarçada), voltou e com uma intensidade brusca.
Larissa Sudário - 3ºcolegial COC Araguari
É muito triste saber que a crise econômica dispertou novamente os atos de xenofobia e a intolerância que estavam de certa forma 'adormecidos' e que voltaram a fazer de vítima os imigrantes.
ResponderExcluirBruna Rabelo - 2° colegial Colégio Mais Positivo Uberlândia.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirÉ uma descepção saber que em pleno século XXI ainda exista movimentos de xenofobia no mundo, ainda mais em paises do continente europeu que por ser uma regiao desenvolvida, deveria ser uma das regioes que desse os melhores exemplos de ética.
ResponderExcluirHigor - 2º colegial Colégio Alpha COC Monte Carmelo
O que faz um brasileiro, um africano, e um monte de gente sair de seu país? Deve ser a hegemonia vergonhosa conquistada em cima da terra, do corpo tratado objeto e da alma supostamente inexistente do outro. Essa dominação deixa marcas. Ela faz com que seus atingidos se escravizem novamente. Vendendo seu trabalho, cientemente, por um preço bem menor. Não se vê um inglês lavando pratos em restaurantes brasileiros. - Não que lavar pratos seja algo indigno. E quando surgem crises o que convém é devolver o produto sem dó. Esse ar de superioridade é só um conceito podre e sem sentido. Dizer que uma pessoa é melhor que outra pela forma que fala ou pela sua escola ou situação financeira é bem vago. Um estrangeiro no Brasil é tratado como um Deus. Um brasileiro lá fora(a não ser Bündchen ou outro de influência)é tratado como um lixo não reciclável. Xenofobia e intolerância são preconceitos injustos sem fundamentos. E infelizmente, rondam a todo momento.
ResponderExcluirJuliana 1º I - COC
A Europa em geral é visivelmente prepotente. Com a Crise Mundial, sentiram realmente o aperto no bolso do trabalhador, conseqüentemente, triplicando a xenofobia, que demonstra o ódio pelo imigrante, independente de qualquer origem, principalmente os menos favorecidos.
ResponderExcluirEsses ataques ás pessoas especialmente em imigrantes, é serio, embora dificilmente esses grupos como skinheads como outros vão ser julgados por homicídios, e outros crimes.
Os Europeus são pessoas mimadas, estúpidas e egoístas que “possui tudo”, mas se esquecem de serem humildes e principalmente da própria história deles, roubaram terras, mataram milhões de pessoas, para conseguir tudo que conseguiram, pois hoje a Europa e EUA são as maiores potencias do mundo.
Nunca estão satisfeitos com o que tem, é necessário tirar a vida do outro para satisfazer seu ego. Depois nós, Brasileiros que somos irracionais.
Amanda Reis, 1ª I – COC – Araguari
A sociedade pré-capitalista mantinha suas relações sociais por meio de seus costumes, afinidades, cultura e religião. Com a Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra, a mesma passou a relacionar-se pelos interesses trabalhistas. O Capitalismo modificou a estrutura das relações sociais entre os indivíduos, pois estes passaram a buscar serem inseridos em um grupo que se identifique com o seu status e com sua classe sócio-econômica. O sistema capitalista modificou também o comportamento e posicionamento do indivíduo contemporâneo, que acha que a estabilidade econômica é necessariamente mais importante que as relações sociais. Isso faz com que o ser humano torne-se cada vez mais objeto do próprio sistema econômico.
ResponderExcluirA crise econômica mundial fez sentimentos de xenofobia e preconceito renascerem nos europeus, pois agora os mesmos se sentem ameaçados com a possibilidade de perderem seus empregos para algum estrangeiro. Mas qual seria o verdadeiro motivo de tanta rebeldia? Seria o fato de serem substituídos por uma pessoa de outra nacionalidade ou apenas o fato de terem sua mão-de-obra substituída no desigual sistema ao qual pertencemos? Tudo bem que seja mais fácil se enganar dizendo que perdeu seu emprego porque um estrangeiro foi contratado, até porque quem entre os orgulhosos humanos vai afirmar que existe alguém com mão-de-obra melhor que a sua?
Ana Flávia Carrijo Chiovato 3ºcolegial-COC-Araguari
Uma pergunta antes de comentar sobre o texto. A garota brasileira citada no texto por acaso é a mesma que virou notícia no jornal, por ter "fingido" sofrer um ataque por skinheads?
ResponderExcluirAchei interessante o assunto que o texto aborda. Concordo com a autora que principalmente a Europa tem ficado cada vez mais individualista e de uma certa forma preconceituosa.
Não acho correto a discriminação que os países (principalmente países de 1º mundo)tem em relação a pessoas de nacionalidades diferentes da sua.
O correto seria tentarmos cessar com o preconceito ao invés de ajudá-lo a se expandir.
Marcela Freitas 3ºcolegial-Mais Positivo-Uberlândia
Uma pergunta antes de comentar sobre o texto. A garota brasileira citada no texto por acaso é a mesma que virou notícia no jornal, por ter "fingido" sofrer um ataque por skinheads?
ResponderExcluirA Marcela, já fez a pergunta que eu queria fazer.
Um bom texto que exemplifica a xenofobia dos europeis.
Atos como a nova lei da Itália só faz crescer em mim um sentimento patriota pelo meu país, que é um lugar com menos (e não nula)atos xenofobicos e que luta para o fim de atos violentos com estrangeiros.
Gabriel Ramos 3ºcolegial-Mais Positivo-Uberlândia
Eu sei que todas as pessoas que procuram os países de primeiro mundo só procuram melhores condições de vida, mas será que de uma certa maneira nós não estamos invadindo o espaço deles?
ResponderExcluirNão acho que a maneira drástica e cruel com que os radicais agem seja correta, e não acho que o xenofobismo seja algo que devesse participar do nosso mundo, mas talvez devessemos tentar olhar o outro lado da moeda...
Ricardo Nunes - 3º colegial - Mais Positivo- UDI