Como a Academia Brasileira de Letras preencheu as lacunas e contradições da lei ortográfica | |
Luiz Costa Pereira Junior - Buscamos decifrar o espírito do acordo para preencher as lacunas, fundando-nos em bom senso e na tradição lexicográfica corrente - diz Bechara. Bechara explicou a conduta da ABL num debate em novembro, no Anglo Vestibulares, em que também participaram linguistas como José Luiz Fiorin, Francisco Platão Savioli e Maria Helena de Moura Neves. - Ficamos sem saber se o acordo, na tentativa de simplificação, esqueceu de apresentar todos os casos ou adotou um critério de dizer que, nos casos omissos, prevalece a grafia antiga. Pois o acordo teve uso curioso do "etc.": pôs "etc." até nas exceções. Decidimos, então, que a exceção fica restrita aos casos prescritos na lei como exceção - diz Bechara. Significa que a ABL ignorou qualquer exceção que não já citada em lei, só as que estão na lista de exceções antes de surgir o "etc." - O espírito do acordo sugere a queda do uso do hífen. Não fazia sentido "fim de semana" às vezes levar hífen e "fim de século" nunca levar. O acordo resolve isso. Ficam os dois casos sem sinal. Mas nem tudo foi tão fácil interpretar - diz Bechara. Hifens A lei ignora os elementos repetidos que formam compostos. A ABL, então, estendeu o hífen às onomatopeias e palavras expressivas: "blá-blá-blá", "reco-reco", "zum-zum", "zigue-zague", "pingue-pongue", "xique-xique", "lenga-lenga" e derivados como "zum-zunar" e "lenga-lengar". Casos mais complexos, como "tintin por tintin", são agora grafados com hífen (tintim-por-tintim). Como acomodar, então, a reduplicação da linguagem infantil em palavras criadas por adultos (titio, papai, mamãe)? A se aplicar a regra, haveria hifens indesejáveis nesses casos. Compreendeu-se, então, diz Bechara, que nesses casos a sílaba não funciona sozinha, não tem individualidade discursiva. Portanto, a composição não terá hífen. E "bombom"? Não é onomatopeia, mas termo de origem francesa. Escreve-se junto, sem hífen, definiu a ABL. Assim como "bumbum". Mas se "bum" vier só e em vez do segundo "bum" houver outro elemento: com hífen, avisa Bechara. O acordo omite a existência ou não de hífen nos casos em que "não" e "quase" estão ao lado de outras palavras. A ABL não manteve o hífen. Assim, grafam-se "pacto de não agressão" e "cometeu um quase delito", por exemplo. Sem hífen. A lei define que terão hífen as palavras oriundas ou derivadas da botânica ou da zoologia. Daí "água-de-coco"; "azeite-de-dendê"; "bálsamo-do-canadá". Mas não "sumo de maracujá"; "suco de limão", pois a preposição não estabelece sentido único. Nem tampouco expressões usadas fora do contexto botânico. Por isso, interpretou a ABL: Contexto O acordo define que paroxítonas com ditongos ei e oi abertos perdem acento (estreia, hemorroida). Mas não se lembrou, diz Bechara, de paroxítonas presas a regras gerais de acentuação, com ei e oi, que precisam de acento se terminadas em r: "destróier", "Méier", "gêiser". A grafia delas fica como antigamente. Omissões Mas não está dado que Portugal acate as sugestões brasileiras, podendo lançar grafias diversas das propostas pelo Brasil, se e quando tratarem do problema (os europeus resistem ao acordo e a preencher suas lacunas). A ABL cria o fato político de precipitar o debate que os portugueses tendem a levar com a barriga. O mais contundente dado político da medida da ABL, no entanto, é o de demarcar posição e, com isso, normatizar o que talvez nem precisasse. Um equívoco no uso do hífen não é o tipo de tropeço que atrapalha a compreensão ou afete a imagem da pessoa. Ninguém será tomado por ignorante nem deixará de ser entendido ao escrever "água-de-coco" com ou sem hífen. Antes de dar vazão à ânsia normativista, talvez fosse o caso de fazer como idiomas em que o hífen é, quando não ignorado, deixado ao gosto do freguês. Mas o Brasil escolheu outro caminho. Quem quiser que o siga. Revista Língua Portuguesa, março 2009. Disponível em http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=11707 |
terça-feira, 10 de março de 2009
Os buracos do acordo
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Acredito que essa nova ortografia vai trazer alguns problemas para o país, pois nem todos conseguirão se adaptar a ela. Em alguns pontos acho que ela se tornou mais complicada do que a antiga, como no exemplo do "Bico-de-papagaio" (com ou seu hífen) citado pelo autor.
ResponderExcluirAcredito que a nova lei será melhor aplicada aos alunos que serão alfabetizados daqui pra frente, junto com alunos que ainda cursam o ensino fundamental e médio, mas acredito que pessoas formadas em outras áreas que não tem muito contato com a ortografia terão grande dificuldade de se adaptar, ou então não se adaptarão as novas regras.
Mas também temos que considerar que o processo é novo e que é normal ter um pouco de confusão em relação a isso.
A mídia deverá fazer o papel dela, divulgando a nova lei e fazendo com que aos poucos as pessoas vão se adaptando a ela.
Concordo com o autor que as pessoas não devem ser vistas como ignorantes pelo fato de terem colocado um hífen no lugar errado, acho que de uma certa forma a maioria da população não irá seguir totalmente certo as regras da nova ortografia.
Marcela Freitas-3ºcolegial-Mais Positivo
A tentativa de padronizar a língua culta, será impossível de ser concretizada ao todo, a meu ver é claro. Nem toda a população do Brasil, possui TV, internet, um meio de comunicação fácil, que possa proporcionar informações tão concretas como essa nova lei ortográfica.
ResponderExcluirEssa nova regra possui incoerências, houve a falta de um bom senso, mas foi visivelmente feliz em algumas de suas decisões.
A vida é feita de mudanças, não seria tão difícil se adaptar ao novo, ao não ser em certar incoerências feita pelo acordo, assim tornando mais difícil retirar ou por algum acento. E às vezes essa perda de acento gera ambigüidades, duplo sentido de uma frase ou palavra.
É acostumar com o novo, e entender alguns possíveis “erros” diríamos as mudanças que nós não concordamos.
Concordo com a Amanda, muitas pessoas moram em fazendas, e estão fora do convívio social, e como a Amanda disse alguns não possuem Televisão e praticamente não possuem também Internet. Mas ainda há várias formas de concretizar essa nova lei...
ResponderExcluirEsse novo acordo se feito da maneira correta,
ResponderExcluirpode sim simplificar a ortográfia, por deixar as palavras mais próxima a nossa linguagem.
Mas da forma como vem sendo conduzidas essas
reformas, o resultado não será bom como o esperado, porque como foi dito algumas palavras
não estão bem definidas, outras acabam ficando ambiguas,e o caso do "etc" é a prova de que
tudo parece estar sendo "empurrado com a barriga".Estou esperando o término dessas mudanças para poder fazer um jugamento final,
mas num pré julgamento e diría que esse novo acordo tem uma boa propósta, mas não um bom
andamento.E o principal a maioria a população não vai mudar o seu vocabulário e vai demorar mais que 4 anos para a adaptação se concretizar.
Gabriel Bonifácio, PréVest alpha coc, monte carmelo
Como ja citado nos comentários anteriores,eu discordo quado se diz ,que muitas pessoas residentes na zonal rural não possuem telvisão.No meu ponto de vista, pessoas sem esse acesso é praticamente extinto,porém mesmo com esse acesso, a telvisão é um meio de comunicação bem resumido ,a internet apesar do crescimento de usuários ,ainda é um pouco restrito ao acesso,as pessoas que tem acesso a esse meio ,procura por informações de seu interesse não de que necessita para eleva seu conhecimento.Para mim ,esses dois meios de comunicação ,jamais será esclarecedor sobre esse assunto ,os meios realmente esclarecedor ao meu ver seria as escolas ou universidades,e muitas pessoas ja passaram por esses meios e aprenderam de uma forma, uma vez q se aprende e muito difícil "reaprender".Essa nova ortagrafia será bom pois irá simplifica a mesma,porém vamos nos deparar com palavras mal esclarecidas ,frases ambiguas entre outras situações do tipo .Mas ja que será implantada essa nova ortografia ,o que nos resta e tentar adaptar as novas regras ortográficas.
ResponderExcluirJoão Paulo /Prévest-semialphacoc/Monte Carmelo